segunda-feira, 14 de maio de 2012

Aprendendo a voar


Quando você nasce e passa sua vida numa cidade pequena como a minha, se você não tiver uma personalidade forte, você se fode. Vivi minha vida inteira num lugar onde a maioria das pessoas forma seu caráter através da marca do tênis que usa. Aqui as pessoas vão te olhar uma primeira vez, e se você não estiver se vestindo de acordo com o que é considerado convenientemente bonito, você já não é mais alguém interessante. Dizem que aqui é a “capital da amizade”, mas o nome mais adequado seria “capital das aparências”.
Sempre vivi aqui, com certa raiva e nojo da maioria das pessoas, e isso é algo que eu realmente não consigo conter. Já são 17 anos que ando por tais ruas, vendo as pessoas que se avaliam superiores às outras, julgando quem é alguém e quem não é ninguém na escala de mais rico, mais bonito, mais popular. A idiotice é tão descarada que o povo se senta à beira da avenida todos os domingos para analisar os belos carros, as belas roupas. É como um ritual de hipocrisia, que todos os cidadãos com a mentalidade de uma formiga devem passar.
Ok, pode parecer muita raiva reprimida, mas é exatamente isso que essa cidade faz. Ela reprime qualquer um que ao invés de agir e pensar como todos os outros, age e pensa como quer. Tenho raiva mesmo. Depois de viver num lugar como esse por tantos anos, quando você sai daqui e vai para uma cidade de verdade, parece que tudo muda.
Incrível. É a palavra que uso para descrever aquela sensação quase rara de tamanha liberdade, que faz você vibrar de alegria. Aquela sensação de, finalmente, estar pisando num chão em que você pode ser você. Aquela sensação de quando você fecha os olhos e sente aquela brisa gelada batendo em seu rosto, e que mesmo poluída, faz você sentir que está no seu lugar.
Ainda que eu nunca tenha me importado com olhares desaprovadores, é maravilhoso andar por uma rua e as pessoas não ficarem observando sua roupa, seu tênis, seu cabelo, para tirarem uma conclusão sobre quem você é. É claro que em todo lugar vai ter gente boçal metida a superior, mas tenho certeza que na maior parte é diferente, pelo simples fato de que as pessoas abrem a mente, e não o contrário, como aqui.
A meta agora é pegar minha mochila e ir embora. Sair o quanto antes daqui, o mais rápido possível. Para enfim poder colocar em prática o verbo mais importante do modo indicativo sem conjugação em nenhum tempo verbal: viver.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Fazendo uma oração pelos corações desesperados esta noite.



E cá estou eu, numa madrugada, desamparada e escutando Aerosmith, mais uma vez. E ao dizer mais uma vez, estou me referindo ao último texto que postei aqui, no qual eu estava exatamente na mesma situação: desamparada e escutando Aerosmith. Tirando apenas um simples detalhe: naquele texto, a realidade em que eu me encontrava, era extremamente distante da minha realidade de agora. Já que, aquele texto era um pedido desesperado para ter você de volta em minha vida. E agora isso não é nada mais do que... a realidade. Eu tenho você. Tenho nossas tardes juntos, nas quais planejamos qual será a primeira roupa do nosso filho, e como vai ser quando nós formos velhos, e como será o nosso casamento.
É uma mudança espantosa, não é? Mas aconteceu da forma como deveria acontecer, da forma como deve ser. Tudo está diferente, completamente diferente. Mas eu, ao contrário de muita gente, não tenho medo da mudança, eu até gosto. Prefiro. E eu escolhi isso, com a certeza de que me faz feliz, me fará feliz. Não tenho receio. O amor existe, ele está aqui na nossa frente, todos os dias. Ele é real, ele é o que me faz acreditar nas possibilidades, nas realidades. 

E como a banda inspiradora desse texto já dizia: É incrível, quando chega o momento você sabe que vai dar certo. Sim, é incrível, e estou fazendo uma oração pelos corações desesperados esta noite.

domingo, 23 de outubro de 2011

Isso não é um saco?

Eu te encontrei, num lugar vazio e escuro. Você estava longe, mas é claro que te reconheci... Não sei por que, mas eu estava chorando, e quando te avistei, caminhando meio sem rumo, eu simplesmente comecei a correr em sua direção. Um estalo na minha cabeça, repentinamente, me fez derramar mais lagrimas ainda e ir até você como se fosse a decisão mais certa da minha vida, como se fosse a coisa mais crucial do mundo pra mim.
Atravessei aquele gramado, naquela noite chuvosa e escura, e finalmente cheguei até você. Eu te abracei, apertado, e você se assustou, mas logo viu que era eu. Me segurou pelos braços, perguntou o que estava acontecendo, e a única coisa que eu conseguia era repetir que eu te amava, que queria você de volta na minha vida. Você sorriu, enquanto uma lagrima rolava pelo seu rosto, ao mesmo tempo em que dizia “eu também” e me abraçava. Ficamos girando na grama, até tudo isso se transformar em uma escuridão total, e enfim, claridade. Apareceu um guarda-roupa marfim na minha frente, mas um marfim tão marfim que meus olhos arderam. Observo ao redor, e vejo meu quarto. Sim, era tudo um sonho.
E o pior: martelou na minha cabeça, o dia inteiro. Mas o que eu me pergunto é, por que ainda sonho com você? Por que ainda penso e você? Por que é tão difícil de esquecer? Por que? Eu sei a resposta, mas não quero admitir. Tá bom assim. Deixa pra lá.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Velhas fotos que fizeram lembrar...

“Quando se é jovem, se fazem essas coisas”. Era o que constantemente dizia o pai. Mas a mãe, mais difícil de lidar, estava sempre pronta pra das uns puxões de orelha nas filhas.
 Afinal, tão tristemente havia construído sua vida, deixando épocas mal-acabadas para trás, deixando os sonhos se desmancharem ao longo da sua estrada. Tinha sido uma moça de família, do interior, não entendia as rebeldias, dessa juventude louca. Pra ela tudo aquilo era errado, mas porque nunca vivera a vida com um tantinho de insensatez sequer. Saiu da casa dos pais pra estudar com a irmã na cidade grande, tão cedo, não sabia ainda o que queria da sua vida. Mas sabia que queria ser alguém.
 Já o pai, totalmente o contrário, já havia aprontado de tudo, na sua época de mocidade. Era um rapaz namorador, e um pouquinho desatinado... Até preso já tinha sido, na cidadezinha em que nasceu, contava ele. Vivia rodando pela cidade, à procura das mais belas moças, em companhia de seus amigos caras-de-pau. Trabalhava na fábrica do pai, e sonhava em ganhar muito dinheiro pra viajar pelo Brasil inteirinho. Era um galanteador, do tipo mais romanesco, que cantava músicas do Roberto Carlos pras suas namoradas, e as levava para baixo das árvores no verão, para clamar suas poesias de amor.
 O acaso se encarregou de fazer essas duas almas distintas se encontrarem. Foi amor à primeira vista, contavam eles. Apaixonados, se casaram, tão rápido... Ela tinha 17 e ele 24. Era um lindo romance, os dois formavam o casal mais bonito, suas mãos quando se entrelaçavam, faziam juntar as almas tão apaixonadas, os corações tão cativados. Claro que não foi um mar de rosas. Tiveram tantos estorvos durante esse caminho, que fica difícil desconfiar de tal amor que sentiam um pelo outro.
 Tipicamente, a família dele não a aceitava. “É uma moça do interior, ignorante e mesquinha” – diziam as irmãs. Alienadas, a fizeram sofrer durante muito tempo, inventando boatos de que ela era uma “mulher da vida”. Tanto sofrimento, agüentou de boca fechada, aquela menina comportada. Não sabia como lidar com as lambisgóias das suas cunhadas. Mas agüentou, sem falar um pio, um dia as medíocres se cansariam de atormentá-los.
 Naturalmente, depois de alguns anos ela engravidou, e tiveram uma linda filha. Então decidiram se mudar de cidade, morar na própria casa, construir a própria vida juntos. Tanta coisa aconteceu, tanta coisa mudou. Era tudo diferente agora, mas continuava sendo bonito.
 Só que o tempo é uma coisa que passa muito rápido, e leva consigo todos os devaneios e as histórias... Depois de quase 30 anos o amor continuou ali intacto, mas enfraquecido. Formavam um casal tão bonito, esses dois. É o que todos dizem. Pena que o tempo passou e gerou tanta coisa ruim na vida dessas duas almas gêmeas.
 Hoje ambos são tão frios, tão rudes. O orgulho está no ar que respiram, tirando o lugar da paixão. Não existe mais romantismo, os dois são pessoas aborrecidas, cansadas. As discussões, todos os dias acontecem, mal sabem eles que até pras filhas isso causa um sofrimento enorme.
 Ele se tornou um homem machista, e difícil de se conviver. Coloca abobrinhas na própria cabeça, e não tem quem tire. Ela se tornou uma mulher arrogante, e ao mesmo tempo medrosa. Sua liberdade foi tirada, desde tão jovem. Deu tudo de si para esse homem, deu sua vida, deixou seus sonhos se esvaecerem, por causa desse amor.
 A bela moça de cabelos encaracolados e um sorriso tão singelo que transmitia todo seu encanto, agora era uma mulher calejada, com um coração tão partido quanto caquinhos de vidro. Raramente exibe aquele sorriso tão belo novamente. E o belo rapaz, galanteador e poeta, já não é mais o mesmo romântico. Hoje é um homem rude e orgulhoso, e que as vezes é até meio psicótico.
 Ele a ama, ela o ama. Mas construíram uma barreira tão grande no meio deles, que já não demonstram mais nada, a não ser rancor e raiva. Tão triste tal história tão bela ser destruída aos poucos, ser esquecida. Existem esperanças de que essa história tenha um final feliz, de que os dois vão estar juntos quando velhinhos, tomando seus chimarrões sentados la fora de manhazinha, observando a rua, os cachorros, as pessoas. Vão se xingar, mas logo esquecer. Vão se olhar nos olhos, sem raiva, sem rancor, sem mágoa. Vão saber que tudo valeu a pena, que o amor nunca deixou de existir.

 Ao olharem para aquelas fotos do casamento, algumas que ela rasgou em pedacinhos num dos momentos de raiva, mas as deixou guardadas, e outras inteiras, lembram-se de tudo aquilo, e deixam o coração amolecer por alguns instantes. E  eu aqui, rezo pra que esses corações frios voltem a se esquentar e amoleçam pra sempre.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Eu só quero dizer FODA-SE.

Realmente eu cansei de muita coisa, porque eu não sou obrigada a aguentar tanta merda. Agora a minha linha é seguir pensando em mim, no que é bom pra mim, que faz bem pra mim. Vou ser egoísta, e FODA-SE.
Eu me sinto como se estivesse em um lugar sem saída, em um labirinto, dando voltas e sem conseguir encontrar o caminho certo. Na vida, o que eu não consigo é encontrar uma opção que realmente traga uma solução pra esses problemas, e que na verdade nem são problemas meus, só que a imbecil aqui não conseguiu aprender ainda a viver sem tomar as dores dos outros.
Tudo isso que acontece aqui é um círculo vicioso. Uma coisa vai levando à outra, e essa sucessão ininterrupta destes fatos vão sempre trazer a mesma consequência: tristeza e culpa. Tanto pra mim, quando pras outras pessoas que convivem com isso.
Eu fico angustiada, realmente angustiada. Sem saber o que fazer, só que as pessoas que causam isso parecem nem perceber, e o pior, se percebem, não se importam. Sei la, só sei que isso, acima de tudo, me irrita, me torna chata e mau humorada.
Só estou escrevendo isso porque preciso, sei la, tirar essa raiva que tenho dentro de mim de alguma forma. Sei que ninguém vai entender nada, e não vai fazer sentido também, aliás, ninguém lê esse blog, então foda-se.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Achando um jeito, uma solução.

 Estou aqui. Essa é a única coisa de que eu realmente sei. Que eu estou aqui. Morrendo de sono. Sem vontade de dormir. E mil coisas estão sempre passando pela minha cabeça. Olhando para o nada, ansiosa, pra que coisas que criei na minha mente aconteçam, por mais que não faça ideia se pode ou não acontecer.  
 Está tudo sempre assim, meio sem explicação.Sei la, em segundos as coisas simplesmente podem mudar e se tornarem totalmente o contrário do que eram. Você decide tomar um rumo diferente, as coisas começam a acontecer de um jeito diferente. Melhor. Você se dá conta de que está mais feliz, e é estranho, e eu confesso que tenho medo, medo de que tudo volte pra mesma realidade de antes, e isso eu não quero.
 São tantas coisas, que eu ja fico até meio paranóica, fico me torturando. E na verdade o que eu quero é deixar isso de lado, permitir que as coisas fluam, como está acontecendo ultimamente. Tem muita coisa ruim que pode me influenciar nos meus dias, mas eu aguento. Eu relevo, eu esqueço, eu finjo que não escuto, que não vejo. E até que isso está fazendo bem pra mim, porque parei de "tomar as dores" das pessoas, sabe. Por mais que no fundo sempre sinto uma tristeza ao pensar nisso... Mas esse não é o momento pra ficar mexendo nessas coisas, coisas antigas, que vou tentar deixar pra trás, e proibí-las de estragar esse momento bom da minha vida.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Esqueça o externo. O que tem dentro pode ser ainda mais bonito.

Um dia desses eu fui em uma biblioteca, e havia um livro com uma capa um pouco diferente no balcão. A bibliotecária se aproximou, e pegou o livro. Deu uma observada, e me disse, em tom debochado:
 - Olha só se isso é livro pra alguém retirar. Eu nunca leria um livro com uma capa ridícula dessas!
Então no mesmo instante eu comecei a pensar em como isso acontece muito na realidade. Dizer que um livro é ruim porque sua capa não é "bonitinha" é ignorância. Julgar um livro pela capa, é a mesma coisa que julgar uma pessoa pela aparência. É conjecturar sem conhecer. É ter um pré conceito. É ridículo. 
As pessoas 'rotulam' as outras, apesar de não fazerem a menor ideia de como elas podem ser na verdade. É emo porque usa preto, é marginal porque usa roupas rasgadas, é burra porque é loira. O que tem por fora é como uma casca de laranja. A gente não descasca e joga fora? Então, deveria ser assim com as pessoas também. Deveríamos dar mais valor ao que está dentro de cada um. Seu caráter, seus sentimentos e ideias. Deveríamos "descascar" as pessoas para olhar direto para suas almas.